Só para exemplificar, vamos dar algumas dicas para fazer boas perguntas às suas crianças.
“Então, a escola correu bem?”
Antes de mais nada, reconhece esta pergunta? Talvez sim. A maioria dos adultos faz esta pergunta ou similar, quando vai buscar crianças à escola.
Eu no passado fiz várias vezes a pergunta: -” Então, a escola correu bem?” – aos meus sobrinhos e, recebia singelos e irritantes, monossílabos!
A resposta invariavelmente era sempre: “Sim!”. Eu ficava perdida, eu queria mais, eu queria que eles me contassem como foi o dia, mas, na verdade, eu fazia uma pergunta fechada, que só pedia uma resposta rápida do tipo: sim, não ou mais ou menos!
Entretanto, mais tarde (felizmente para os miúdos) o coaching apetrechou-me de uma série de ferramentas úteis para manter verdadeiros diálogos com crianças, assim como, com os adultos. Seja como for, este artigo é dedicado à comunicação com crianças.
Eu experimentei e espero que este tema possa ajudar todos os adultos a dialogar com as suas crianças, com resultados avassaladores! Por fim, acabaram as respostas sintéticas que nos deixam perdidos, sem saber bem o que perguntar a seguir!
Assim, às boas perguntas para crianças eu passei a denominar de: perguntas C.E.R.A. (anagrama que utilizo apenas para ajudar a reter o conteúdo).
Assim, as boas perguntas, ou perguntas C.E.R.A. são perguntas:
Claras: para que sejam de fácil compreensão, ajustadas à capacidade de compreensão da criança, consoante a sua idade,
Empáticas: de tal forma que, estejam ajustadas com ao estado emocional das crianças, naquele momento,
Relevantes: sem dúvida que sejam realmente importantes para a criança, não para o adulto, mas sim para a criança,
Abertas: com o fim de promoverem respostas longas, de reflexão, de opinião ou simplesmente descrição de um determinado acontecimento.
Com o propósito de obter respostas mais detalhadas, o uso de determinantes interrogativos, é fundamental. Em conformidade com este princípio, sempre que tentar uma pergunta, faça-a a si mesmo(a).
Se conseguir responder sim ou não, então reformule a pergunta para que seja impossível responder um sim ou não.
PERGUNTAS C.E.R.A. | PERGUNTAS FECHADAS |
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Então… conta-me tudo: o que aconteceu hoje na escola que te deixou tão feliz/triste? Percebo na tua cara que estás triste/contente, qual é a razão para essa emoção? Olá, miúdo(a)! Então? Essa cara quer dizer que…? …Já reparei pela tua expressão que alguma coisa se passou… conta-me o que aconteceu? Bem…estás em modo “Chitex”, conta-me o que aconteceu? | Então…a escola correu bem? Estás com cara de poucos amigos, porquê?Olá, miúdo(a)! Então?Tudo bem?…Hoje não estás para grandes conversas, pois não?Estás chateado(a)?O que se passa? |
São produtivas. Mais demoradas. Aumentam a conexão. | Não produtivas. Rápidas. Não fomentam a conexão. |
Repare como nós adultos, somos muitas vezes confrontados com perguntas do tipo fechado e, ainda que estejamos a carregar o mundo nos ombros, por norma, perante uma pergunta tão objectiva, respondemos: sim, não ou talvez.
Não raras vezes, ainda assim, conseguimos produzir conversas que acabam pior do que começaram, apesar da intenção de quem pergunta ser positiva e ir no sentido de ajudar.
PERGUNTAS C.E.R.A. | PERGUNTAS FECHADAS |
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Bom dia! Com quem sonhaste hoje à noite? Bom dia! Qual foi o teu sonho, nesta noite? Bom dia! Quantos sonhos tiveste hoje? Com quem sonhaste? Bom dia! Já percebi que ainda tens sono…o que eu posso fazer para te ajudar a acordar? Bom dia! Ui…vejo que dormiste mal…como é que te posso ajudar a ultrapassar essa neura? Bom dia! Dormiram bem? Sabem que já é meio-dia? Acabaram de faltar às primeiras horas de escola. Quem quer ir à escola só na hora do recreio?**- embora não seja uma pergunta aberta, é óptima para acordarem bem-dispostos. Vai gerar muita gargalhada! | Então…dormiste bem? Estás com cara de sono, porquê? Bom dia! Dormiram bem? Vá menina, toca a acordar que já é tarde. Sabes que horas são? Bom dia! Como é? Vamos levantar cheios de energia? Bom dia! Ui…que carinha de sono! Ainda tens sono bebé? |
São produtivas. Mais demoradas. Aumentam a conexão. | Não produtivas. Rápidas. Não fomentam a conexão. |
PERGUNTAS C.E.R.A. | PERGUNTAS FECHADAS |
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Se tivesses uma varinha mágica, o que farias com ela?Por que é que isso é importante? O que queres dizer com…? Como é que podemos descobrir? Quem, para além de ti, podia ajudar a resolver isso? A Professora pediu uma composição com 12 linhas, tu escreveste 5. Como é que o teu super-herói escreveria as linhas em falta? Afinal, o que é que a Professora pediu para o trabalho de português? | Já viste se a Professora mandou algum e-mail sobre o trabalho de português? Achas que esta composição com 5 linhas foi o que a Professora pediu? Então se achas que não, por que é que escreveste apenas 5 linhas? Não sabes? Já fizeste os trabalhos de casa? |
São produtivas. Mais demoradas. Aumentam a conexão. | Não produtivas. Rápidas. Não fomentam a conexão. |
Já reparou que, no momento em que usamos perguntas fechadas, além de improdutivas, roubam imenso tempo e por vezes levam os adultos ao desespero? Com efeito, os adultos e não só… também as crianças vão reagir mal por desgaste, são muitas perguntas! Desse modo, já respondemos para criar atrito, pois isso sucede quando começamos a estar cansados de tanta pergunta.
Entretanto, estes são exemplos que pode começar a praticar com as suas crianças. Inesperadamente, vai ficar surpreendido(a) com a capacidade de respostas interessantes e produtivas, que os petizes têm para dar!
Sobretudo, ao acordar. O levantar é para a grande maioria das famílias o momento mais stressante, porque todos estão com pressa.
As manhãs, dessa forma, são sempre uma oportunidade à discussão, às birras, aos berros e choros. Sob o mesmo ponto de vista, as boas perguntas não podem ser feitas quando nós adultos também estamos sob pressão.
A princípio, a única formula vencedora é acordar mais cedo e, nesse sentido, sim, vai ter a tranquilidade de estar com as suas crianças, calmamente a fazer perguntas.
Não dispare perguntas!
Antes de tudo, experimente devagar. Isto é, uma pergunta de cada vez e aguarde o resultado com calma.
Dê tempo à criança para responder, porque na primeira vez, até a criança vai ser surpreendida, por isso levará alguns minutos a pensar no que lhe pergunta.
Aguarde com calma, não ajude à resposta, assim, deixe-se levar pelo momento.
Ao longo dos dias, vá introduzindo mais perguntas abertas, dessa forma, acaba tornando-se um hábito.
Não se admire se um dia a criança lhe disser: – “Lá estás tu com essas perguntas!” – Normalmente mencionam “essas” porque na realidade elas sentem que são perguntas diferentes, já não podem viver de monossílabos.
Apesar da observação, a experiência como KidCoach, diz-me que, quer os pais, quer os cuidadores, quer os familiares, bem como as próprias crianças, se sentem mais felizes.
O resultado é que as crianças sentem que estão acompanhadas, que os adultos estão mesmo interessados em saber do seu dia-a-dia, das suas emoções, dos seus sentimentos e, os adultos sentem-se bem porque conseguem criar verdadeiras conexões.
Anteriormente as suas vidas passavam a correr, entre gritos e birras, e sim, não, ou não sei, enquanto lutavam com os seus problemas de adultos (gerir a casa, despesas, trânsito, trabalho, etc.) e chegavam ao final do dia exaustos, sem paciência para birras e a desejar apenas que as crianças não os incomodassem.
Pois no dia seguinte: repetia-se a jornada! Tudo igual, a começar logo pela manhã. Atrasos, birras, choros, gritaria.
Visto que, a estratégia das perguntas C.E.R.A. vai aliviar essa carga diária, vai permitir aos pais e/ou cuidadores, mais informação numa só pergunta e ainda promove a autonomia da criança.