Colocar rótulos é tão fácil! Se bem que ninguém pode dizer que nunca o fez, a verdade é que o fazemos muito mais vezes do que imaginamos. Quando falamos de estereótipos, falamos de rótulos em linguagem informal.
Certamente, pelo simples facto de o fazermos com frequência e, muitas vezes de forma inconsciente, não significa que estejamos a fazer bem. Devemos, sim, ter consciência desse nosso comportamento e das consequências negativas que o mesmo tem no outro, logo, se tem impacto no outro, é um assunto sobre o qual devemos reflectir.
Caracterização rígida e redutora de algo ou de alguém, comummente aceite por hábito de julgamento, superficialidade de análise, desconhecimento ou preconceito.
Ideia repetida ou muito vista; chavão; cliché; lugar-comum.
Em linguagem corrente, usamos o conceito de rótulo. Ambos significam a mesma coisa, no âmbito das relações humanas.
Um rótulo, é um conceito usado para caracterizar alguém de forma rígida e redutora.
Os rótulos surgem, primordialmente, sem má intenção. Começam por ser simples brincadeiras e acabam, eventualmente, em verdades absolutas.
Com intenção ou sem ela, o rótulo nasce da tradução de um comportamento em algo que se classifica como característica da pessoa, só que, um comportamento não é uma característica.
Num sentido mais lato, o comportamento inclui tudo o que o individuo faz ou sente. O comportamento não indica o que o indivíduo é, apenas indica o comportamento observado, que, por isso, pode ser corrigido, melhorado ou amplificado, conforme a necessidade.
O impacto dos rótulos nas crianças é amplificado e gera verdadeiros traumas, visto que, as crianças estão em formação.
Jim Kwik, relata no seu livro “Sem limites” como o rótulo que a professora lhe colocou, o condicionou profundamente. A professora primária, frustrada porque ele não entendia a lição, apontou para ele e disse: “Aquele é o menino do cérebro avariado”.
Sempre que ele tinha uma dificuldade ou não conseguia ter o mesmo êxito que os colegas, ele dizia para si mesmo que isso acontecia porque o seu cérebro era “avariado”.
“Quando pomos um rótulo em alguém ou nalguma coisa, criamos um limite – o rótulo torna-se a limitação. Os adultos têm de ter muito cuidado com as palavras que exteriorizam, porque estas rapidamente se tornam as palavras interiorizadas pela criança. “.
Jim Kwik
Hoje, o Jim Kwik, é um especialista de prestígio mundial no aperfeiçoamento da memória, optimização do cérebro e aprendizagem acelerada. A lesão cerebral que sofreu em criança, após um acidente na escola, condicionou a sua aprendizagem e esse condicionamento ainda foi reforçado pelo rótulo que a professora lhe colocou. Felizmente para ele, conseguiu, anos depois e com muito esforço, ultrapassar essa barreira, todavia, confessa que durante anos, interiorizou aquelas palavras como sendo a sua realidade e com a qual teria de aprender a viver.
Se um rótulo pode afetar profundamente a perceção da criança de si própria, num adulto assim também sucede. Todos sentimos o impacto de um rótulo.
Falo deste tema com muito à-vontade, porque desde tenra idade que sempre me disseram que a matemática não era o meu forte. Hoje, eu sei que posso alterar isso e reverter esse rótulo, infelizmente tarde demais para os objetivos que eu tinha na altura.
Claro que ninguém fez isso por mal, antes pelo contrário, a ideia era protegerem-me da dificuldade. Seja como for, eu assumi e interiorizei que a matemática não era para mim e, nem sequer fiz um esforço para tentar trabalhar essa disciplina!
Por fim, aos 40 anos percebi que todos estavam errados e, eu acreditei nesse rótulo. Hoje, encaro a matemática como um saudável passatempo! Quem diria!?
Um papel, é algo que assumimos diferentes, ao longo da nossa vida e várias vezes ao dia.
Um papel, é algo que cabe a cada um de nós, que assumimos ao longo do dia, consoante as ocasiões. Tal como a um actor cabe-lhe uma determinada parte de uma peça.
Assumimos vários papéis conforme a necessidade ao longo da nossa vida, tanto quanto me recordo, só existe um papel que, biologicamente, só pode ser assumido pela mulher, o da gestação. O homem não consegue ficar grávido! Por conseguinte, todos nós, independentemente do género, assumimos diversos papéis.
Algumas vezes assumimos papéis que não são nossos. Quando isso sucede e vai contra a nossa vontade, saímos frustrados e zangados com a vida, por exemplo:
Outros, são papéis do quotidiano e, assumimos estes, conforme necessitamos, por exemplo:
Tão negativo é um rótulo positivo quanto um rótulo negativo. Ambos são redutores e castradores.
Frequentemente dizemos às nossas crianças: “Muito bem, lindo menino!”, “És a miúda mais bonita do mundo”, “És tão inteligente!”. Estes adjetivos carregam em si, mensagens positivas, portanto quando repetidas inúmeras vezes, tornam-se rótulos positivos.
A grande questão é: serão estes benéficos para a criança?
Na opinião de vários psicólogos e especialistas em comportamento humano, não.
Se dizemos à criança que é muito inteligente, em cada pequeno passo que dá, com o tempo a criança vai assumir que não lhe é permitido errar. Nesse sentido, ela sente que tem de ser perfeita. É o que esperam dela.
Se lhe dizemos que é a mais bonita do mundo, ela nunca vai aceitar qualquer imperfeição.
Agora pergunta: “Quer dizer que nunca posso elogiar a criança?” Pode, mas forneça à criança um retorno (feedback) positivo, já que é mais eficaz, mais descritivo e, além disso, deixa espaço para o dia em que a criança possa cometer um erro.
A criança, espontaneamente, arrumou os brinquedos e fez questão em comunicar-lhe.
Em vez de dizer – “Lindo menino(a), muito bem.” – pode dizer – “Já reparei! Eu fiquei muito contente com isso e tu, como é que te sentes agora?” – aproveite para expressar o seu sentimento e também para pedir a opinião da criança em relação ao que ela sentiu por arrumar os seus brinquedos.
Ao evidenciar os seus sentimentos e os sentimentos da criança, no dia que ela não arrume os brinquedos, pode invocar os sentimentos que ela sentiu no dia que os arrumou. Não a fará sentir-se culpada por não ter arrumado, e ainda a faz recordar esse dia que ela se sentiu bem e, eventualmente disse que se sentiu feliz e mais crescida, além de ter percebido que deixou a mãe ou pai, contentes!
É bem diferente do que apenas dizer – “Lindo menino(a)” – frase que indica à criança que só é lindo menino(a) quando arruma os seus brinquedos!
E quando não arrumar? É um menino(a) feio(a)?
Os rótulos negativos têm o mesmo efeito que os rótulos positivos.
É tão prejudicial elogiar constantemente, como é “castigar”.
A diferença é que o rótulo positivo parece bom, ao contrário do rótulo negativo, porém, ambos condicionam para sempre a pessoa.
Aos rótulos positivos respondemos interiormente com medo de errar, não nos é permitido falhar, e com os rótulos negativos respondemos interiormente que é escusado tentar, pois somos assim e não há nada que possamos fazer para melhorar.
Certamente podemos invocar mais, mas, para já, duas habilidades podem ajudar a evitar este comportamento:
A empatia vai permitir que antes de rotular alguém (lembre-se que rotulamos pessoas erradamente, pois o que queremos é rotular comportamentos, e não pessoas) pense primeiro – “Como é que eu me sentiria se me dissessem que sou preguiçosa?”
Hipótese A: “Não ia gostar nada…” – então já sabe que a pessoa a quem pensava chamar de preguiçosa, também não vai gostar.
Hipótese B: “Não me importava. É verdade!” – então é porque nalguma altura da sua vida interiorizou esse rótulo e, desse modo, tornou-se uma verdade absoluta. Desengane-se. A preguiça além de não ser hereditária tem cura!
Tudo o que tem a ver com os nossos comportamentos pode ser trabalhado e melhorado.
Dar feedback é outra habilidade.
Uma habilidade só precisa de conhecimento, prática e repetição. Procure treinar o feedback positivo. Dar feedback não é só dizer: “Muito bem!” – aponte aquilo que realmente está bem feito, a forma, a qualidade, o timing, ou qualquer outro pormenor que possa evidenciar a razão pela qual, quer dizer “Muito bem”, explique porquê.
Exemplo: “Muito bem, conseguiste fazer isso sozinho(a), fico admirada com a tua coragem, deves sentir-te muito orgulhoso(a) agora!”
Reparou na diferença? Requer dar atenção real ao que lhe estão a mostrar, e exige mais do que duas palavras, mas o retorno vai compensar isso tudo!
Assim, diria que quando alguém, lhe pedir uma opinião, não fique pelo simples elogio ou castigo, seja detalhado(a).
Se não tem tempo naquele preciso instante, é preferível pedir a essa pessoa que aguarde cinco minutos, e depois, sim, dirija-se a ela com atenção e tempo.
Isto é válido para as crianças e qualquer jovem ou adulto.
O tema do feedback é um assunto que se torna sério e gerador de muitos conflitos, na idade adulta, nas relações laborais, quando não é praticado da forma correcta. Comece a praticar já com as suas crianças e transporte essa habilidade para o seu ambiente profissional. Vai obter resultados muito positivos e gerar um clima de confiança e segurança incríveis, com os seus pares!
Sobre elogios e castigos, não posso deixar de recomendar a leitura do livro de Alfie Kohn – Motivar sin prémios ni castigos – Ediciones Cristiandad. Não tenho conhecimento de que exista uma versão em português, mas encontra esta versão em espanhol e em inglês (Punished by rewards).
Kohn tem uma perspectiva sobre elogios, recompensas e castigos, que merece a nossa atenção e reflexão.
Sem dúvida. Quer a perceção que temos de nós próprios, quer a perceção que temos dos outros.
O psicólogo Robert Rosenthal e a directora de uma escola primária Lenore Jacobson, mostraram que as expectativas dos professores influenciam o desempenho dos alunos.
As expectativas positivas influenciam o desempenho positivamente e as expectativas negativas influenciam o desempenho negativamente. Rosenthal e Jacobson, primeiramente descreveram o fenómeno como Efeito Pigmalião.
Com o intuito de explorar este estudo, pode encontrar toda a informação sobre o efeito pigmalião no livro: Pigmalião na sala de aula: expectativa do professor e desenvolvimento intelectual dos alunos. Rosenthal, R., & Jacobson, L. (1968) Nova York: Holt, Rinehart & Winston. James Rhem dedica um artigo de reflexão sobre o trabalho de Rosenthal e Jacobson que pode ler aqui.
Várias experiências foram conduzidas em sala de aula, com professores, para verificar se as expectativas dos professores podiam ou não interferir com os resultados dos alunos.
A verdade é que até em ambiente de trabalho, alguns pesquisadores, chegaram à mesma conclusão. O efeito verifica-se e pode condicionar todo o desempenho de uma equipa.
Segundo Rosenthal, se acharmos que os nossos alunos não conseguem muito, são pouco brilhantes, podemos estar inclinados a ensinar coisas mais simples, fazer muitos exercícios, dar tarefas simples, que exijam respostas simplistas e factuais. O inverso, fará com que elevemos o nível de ensino a um patamar superior.
O efeito do rótulo é semelhante ao efeito Pigmalião.
Quando apresentamos uma criança a um adulto dizendo-lhe – “Com ele tem de estar atento, porque é uma cabeça de vento” – o adulto já vai condicionar todo o seu comportamento em função da descrição dessa criança.
Por outro lado, coisa diferente sentiria esse adulto, se a criança lhe fosse apresentada como – “Tem de estar preparado porque ele é muito inteligente e muito observador!”.
Seja como for, na opinião de vários psicólogos e especialistas em Educação, o melhor é evitar qualquer tipo de rótulo, seja ele positivo ou negativo, pois ambos vão condicionar e limitar comportamentos, e tudo o que nos limita, deixa-nos mais “pobres”.