Decerto, para os pais, professores e outros cuidadores de crianças, estes sete passos, para ajudarem as crianças a entenderem as suas emoções, são uma ferramenta de utilidade diária para: conviverem melhor, de forma mais tranquila e equilibrada.
O psiquiatra Daniel Siegel desenvolveu uma analogia muito engraçada, (assim aconselha que se explique às crianças) para exemplificar como funciona o cérebro, de uma maneira simples e descomplicada.
Para além dos hemisférios esquerdo e direito, ele fala do cérebro do “andar de cima” e do cérebro do “andar de baixo”. Como se o nosso cérebro fosse uma casa, com rés-do-chão e primeiro andar.
No rés-do-chão, estão as áreas de maior confusão, onde se passam coisas importantes para a nossa sobrevivência, tais como comer. Temos a cozinha, a sala, casa de jantar, escritório, etc. Neste lugar, as coisas simplesmente acontecem porque têm de acontecer. É um local de muita acção.
No primeiro andar estão os quartos, onde dormimos, descansamos e podemos parar para reflectir. É como se esta parte do nosso cérebro fosse mais sofisticada. É onde se processa o pensamento abstracto, tomamos decisões, resolvemos problemas e, criamos soluções usando a imaginação e criatividade. Este é o lugar do córtex cerebral.
No “andar de baixo”, encontramos o tronco cerebral, o cerebelo e o sistema límbico. Este último, inclui o hipocampo, hipotálamo e amígdalas. É aqui que se processam as emoções e as funções vitais do nosso corpo, tudo o que não controlamos, como, por exemplo, os batimentos de coração, o pestanejar, o controlo da temperatura, enfim, todas as funções que se processam de forma inata e sobre as quais não temos controlo, assim como os reflexos e o comportamento sexual. É aqui também o lugar das emoções fortes, mais concretamente nas amígdalas cerebrais.
As emoções processam-se concretamente nas amígdalas cerebrais.
As amígdalas cerebrais recebem informação dos 5 sentidos, e respondem ao momento presente de forma inata e espontânea.
Não pensam, não reflectem nem se preocupam com as consequências das acções que nos conduzem a tomar. Apenas recebem a informação dos 5 sentidos e reagem.
É por elas trabalharem deste modo que temos reflexos. Por exemplo: quando nos afastamos de um objecto que vem na nossa direcção.
Seria impossível viver com qualidade, sem as amígdalas cerebrais.
Algumas experiências científicas já foram realizadas nesse sentido e o resultado coloca em causa a própria sobrevivência das cobaias. Ex: um rato sem amígdalas não tem medo de gatos e torna-se presa fácil, porque o centro que processa o medo foi desconectado.
Compreender como gerimos as emoções é fundamental para compreender as razões das birras das crianças, sobretudo até aos 4 anos.
As crianças vivem a emoção e demonstram-na com os recursos de que dispõem, os quais são normalmente expressos por choro, gritos, ou demonstrações físicas de descontrole: deitarem-se no chão e baterem com a cabeça, espernearem, baterem no cuidador.
Aos pais compete entender que isso é “normal”, para já, isso é o que elas sabem fazer. Querem-nos comunicar que não se sentem bem com determinada situação e estes são os únicos recursos que conhecem para o demonstrar. Todavia, existem formas de ajudá-las a criarem outros recursos, mais adaptados.
Para os pais ajudarem as crianças a gerirem melhor as suas emoções, existem alguns passos, com a finalidade de, iluminarem esse caminho, e que de acordo com o psicólogo Rafa Guerrero, sete, são o número de passos que ele compilou, nomeadamente:
Conhecer o nome das emoções, é o primeiro passo. Vários têm sido os psicólogos interessados em estudar as emoções e dentro das várias opiniões, mais ou menos convergentes, assim sendo, optámos pelo trabalho do psicólogo Paul Ekman, porque dedicou largos anos ao estudo das emoções no ser humano, e definiu 7 emoções básicas, são elas a:
Ao ser capaz de identificar uma emoção quando ela aparece, Guerrero, chama: reconhecimento.
Se nos colocarem uma fotografia da Torre Eiffel, seremos capazes de a identificar? Se sim, porquê? Porque provavelmente já nos explicaram que torre é essa e onde fica, ou porque já a visitámos ou ainda, porque vimos algum documentário sobre ela.
De maneira idêntica, acontece o mesmo com as emoções.
Para conseguirmos reconhecer uma emoção precisamos saber como ela se apresenta, que sinais a identificam que nos permitam reconhecer que se trata da emoção A ou B.
Legitimar a emoção é experimentar e expressar essa emoção. É como se diz de forma popular: “colocar a mão na massa”.
Para legitimar uma emoção precisamos de já a ter experimentado ou expressado, só assim conseguimos legitimá-la.
O quarto passo é criar estratégias para regular as emoções.
Agora que já a conhecemos, conseguimos reconhecê-la e sabemos legitimá-la, devemos ter estratégias para a regular.
De acordo com Tony Robbins, conhecido Coach Motivacional, uma estratégia assemelha-se a uma receita, isto é, ela tem determinados ingredientes previamente seleccionados e, logo depois, seguem-se vários passos para ligá-los de tal forma que no final se produza um resultado, assim sendo, pode ser um bolo, uma sobremesa, um estufado, enfim, o que se quiser.
Rafa Guerrero utiliza uma técnica muito simples para ajudar a encontrar uma estratégia, por exemplo, para o aborrecimento.
Como é que ele faz isso?
Convida a criança a ficar 5 minutos sentada numa cadeira, sem acesso a nada, sem pessoas em volta, sem aparelhos electrónicos, simplesmente sentada numa cadeira, sozinha e sem distracções, não apenas por breves minutos, mas sim durante 5 minutos.
Do mesmo modo, que o psicólogo faz este exercício com crianças, também o faz com adultos e, diz que a maioria dos adultos nem chega ao fim dos 5 minutos!
Assim, com este exercício, ele convida a pessoa a criar estratégias para viver essa emoção, da melhor maneira que puder. Ela vai ter de encontrar os seus ingredientes e em seguida, saber ligá-los para produzirem um resultado, que neste caso é: ultrapassar o aborrecimento.
Reflectir e pensar sobre a emoção que está a viver.
Ficar um pouco sentado a pensar sobre alguma coisa não é habitual no ser humano e, inesperadamente, até é um comportamento criticado pelos seus pares. Até parece que o ser humano não pode estar quieto dez minutos!
Mas é preciso, e neste caso é necessário para conseguir reflectir sobre o que se passa no nosso corpo quando sentimos uma determinada emoção, que sinais ele nos transmite.
Quais os sentimentos que vivemos quando essa emoção aparece?
Quais as manifestações físicas do nosso corpo, quando experimenta uma determinada emoção? Pense sobre isso.
O sexto passo é dar uma resposta adaptada – se uma criança pequena se atira para o chão e esperneia é porque ainda não tem, uma resposta mais adequada para oferecer – mas à medida que cresce, podemos ajudá-la a encontrar uma resposta mais adaptada para controlar esses sentimentos que advêm da emoção.
Não controlamos a emoção, mas podemos controlar os sentimentos que vivemos associados a ela. Para estes podemos encontrar respostas melhores.
É provável, e aconselhável, que um adulto quando sente raiva não se atire para o chão a espernear, já que é expectável que tenha encontrado, nesta altura, respostas mais adaptadas para controlar essa emoção.
Por fim, o sétimo passo consiste em dar uma narrativa à criança, sobre o que aconteceu. O que o psicólogo quer dizer com dar uma narrativa, é juntar todos estes passos e dar uma explicação.
É importante explicar à criança o que ela está a passar e fazer o enquadramento da situação toda.
Se uma criança vive a emoção do medo porque, por exemplo, assistiu a um fenómeno meteorológico extremo, caíram árvores e voaram telhados e agora tem medo de sair à rua, os pais podem e devem explicar que aquilo que ela sente é normal, chama-se medo.
Comece pelo passo um e, siga até ao final ajudando a criança a compreender que aquilo que sente chama-se medo (1), reconhecemos isso pelo ar assustado que a criança expressa ou porque o verbalizou, (2), é legítimo porque ela experimentou essa emoção ao assistir a esse fenómeno da janela da sua casa, (3) que podemos trabalhar com ela no sentido de arranjar uma ou mais estratégias para conduzir esses sentimentos para um lugar mais confortável. Convide-a a arranjar essas estratégias, não sugira, peça-lhe que pense como podia sentir menos medo, ou o que poderia fazer para ultrapassar esse medo (4), e assim entra no passo 5 – reflectir sobre essa emoção, o que o seu corpo lhe diz? Treme? Fica com suores frios? Sente-se paralisada? E que sentimentos surgem? Insegurança? Ansiedade?
Por fim, a criança escutando a sua narrativa e reflectindo sobre ela com a sua ajuda, vai encontrar, ela própria, uma resposta mais adaptada.
A resposta da criança será sempre a melhor resposta. Se a criança lhe disser que quando sentir medo vai contar até cem de olhos fechados porque isso fá-la ultrapassar esse medo, aceite a proposta. As melhores estratégias vêm sempre do próprio e não das sugestões de outros.
Com estes sete passos para ajudar as crianças a entenderem as suas emoções, os pais vão sentir um grande alívio quando as suas emoções se descontrolam. Por outro lado, a criança vai compreender melhor o que se passa e vai tentar encontrar mecanismos e estratégias para ultrapassar emoções fortes.
Funciona assim para as crianças e funciona assim para os adultos.
Por isso, não se admire, quando a criança lhe pedir ajuda para emoções novas, que experimenta pela primeira vez! Este, aliás, é um excelente sinal de reforço positivo e, quer dizer que a criança vê nos pais, as competências necessárias para ajudá-la.