Existem vários mitos acerca da memória e do cérebro, neste artigo vamos falar das recentes descobertas de Daniel J.Siegel que desmascaram 2 mitos sobre a memória e o cérebro.
O primeiro mito sobre a forma como o nosso cérebro memoriza informação é que, a memória é um arquivo mental.
De acordo com esta ideia, é como se tudo estivesse organizado em várias gavetas.
Talvez até fosse mais fácil, mas de acordo com as últimas investigações sobre o funcionamento do cérebro e de Daniel J. Siegel, não é assim que funciona!
Para este Neuropsiquiatra e Professor Clínico de Psiquiatria a memória funciona por associações.
A memória é a forma como um evento passado nos influencia no presente. – Daniel J.Siegel
Imagine que está a meio de uma arrumação em casa e descobre uma chucha. Nada relevante se tem crianças em casa em idade de a usar, seria apenas normal.
O facto é que mesmo quando essa condição já não se verifica, o nosso cérebro é tomado por associações sentimentais.
Eventualmente, só pelo facto de ter encontrado aquela chucha, vai recordar o dia em que o seu filho a deixou. Quem diz este evento, diz outro qualquer momento associado àquele objecto. Como funciona esse mecanismo de associações?
Este mecanismo funciona quando se associam eventos. Os eventos passados associados, a algo que se encontra no presente, fazem lembrar um acontecimento.
Este é o movimento natural dos nossos neurónios. Quando passamos por determinada experiência, eles comunicam-se entre si por pequenas descargas eléctricas: sinapses.
Estas ligações entre vários neurónios são associações.
Conforme os neurocientistas explicam, os neurónios que disparam juntos, se ligam juntos.
Provavelmente, quando escuta uma música, lembra-se de um momento especial que viveu ao som da mesma. Significa que a experiência desse dia especial fez disparar certos neurónios. Estes por sua vez associaram-se a outros quando ouvia a música.
É assim que os mesmos neurónios do momento especial, se associam aos que escutam agora a música e, nos levam a recordar um evento memorizado.
Por isso, o nosso passado molda o nosso presente e o nosso futuro, através de associações, como conclui Daniel J.Siegel.
Continuando a linha de investigação de Daniel J.Siegel, passamos ao segundo mito, no qual o neuropsiquiatra explica, porque é que não reproduzimos as memórias com total certeza.
Certamente, já lhe aconteceu estar a relatar um evento passado e algum familiar dizer – “Que disparate! Não foi nada assim!”.
Em outras palavras, quando vamos buscar um evento do passado, ele é associado no presente. Como tal, está sujeito a variações e influências do presente, do seu estado de espírito no momento.
Assim a história que contamos é menos história e mais ficção histórica. – Daniel J. Siegel
Da mesma forma, quando recordamos não fazemos uma reprodução exacta, como se de uma fotocópia se tratasse. O que fazemos são associações feitas no “agora”. Sujeitas à distorção do seu estado de espírito, do momento presente, do evento actual.
Em suma, recordando o mito#1: a memória – são ligações no cérebro. Não são arquivos arrumados e organizados em gavetas.
Para terminar, deixamos a sugestão de leitura do livro de Daniel J.Siegel e Tina Payne Bryson – O cérebro da criança. Nele vai encontrar este tema e muitas outras informações dos mais recentes estudos neurológicos.
É uma leitura fascinante para todos aqueles que, mesmo não sendo cientistas, se apaixonam pelo estudo do cérebro.
Também poderá ter interesse em ler o nosso artigo sobre a plasticidade neuronal ou neuroplasticidade.